sexta-feira, 17 de abril de 2009

Pérola da literatura

"....Ao clarear da manhã entregavam-se à azáfama da construção dos casebres. Estes, a princípío apinhando-se próximos à depressão em que se erigia a primitiva igreja, e descendo desnivelados ao viés das encostas breves até ao rio, começaram a salpintar, esparsos, o terreno rugado, mas longe.
Construções ligeiras, distantes do núcleo compacto da casaria, pareciam obedecer ao traçado de um plano de defesa. Sucediam-se escalonadas, ladeando os caminhos. Marginavam a de Jeremoabo, erectas numa e outra margem do Vazo-Barris, para jusante até Trabubu e o Ribeirão de Macambira. Pontilhavam o do Rosário, transpondo o rio e contornando a Favela. Espalhavam-se pelos cerros, que se sucediam inúmeros segundo o rumo de Uauá.. Inscritas em cercas impenetráveis de gravatás, plantados na borda de um fosso envolvente, cada uma era do mesmo passo, um lar e um reduto. Dispunham-se formando linhas irreguladres de baluartes.
Porque a cidade selvagem, desde o princípio, tinha em torno acompanhando-o no crescimento rápido, um cículo formidável de trincheiras cavadas em todos os pendores, enfiando todas as veredas, planos de fogo volvidos, rasantes com o chão, para todos os rumos. Veladas por touceiras inextricáveis de macambiras ou lascas de pedra, não se revelavam à distância. Vindo do levante, o viajor que as abeirasse, ao divisar, esparsas sobre os cerros, as choupanas exíguas à maneira de guaritas, acreditaria topar uma racnharia esparsa de vaqueiros inofensivos.
Atingira, de repente, a casaria compacta, surpresa, como se caísse numa tocaia".


Trecho de "Os Sertões", de Euclides da Cunha

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