domingo, 15 de fevereiro de 2009

Euclides, o ecologista




O amor à natureza em Euclides da Cunha é uma das bases de sua compreensão do Brasil, de sua superconscientização de nossa realidade. Identificado ao meio, considerado conforme as coordenadas de tempo e espaço, desenvolveu sua mensagem em autêntica identificação com nossa coletividade e o ambiente que a envolve.




"Um ruga fatal na natureza"

EUCLIDES DA CUNHA

Meus colegas- escrevo-vos às pressas, desordenadamente...
Guiam-me a penna às impressões fugitivas das multicores e variegadas télas de uma natureza esplendida, que a Tramway me deixa presencias de relance quasi. É magestoso o que nos rodeia: No seio dos espaços palpita coruscante o grande motor da vida; envolvida na clamy de scintillante do dia, a natureza ergue-se brilhante e sonora numa expansão sublime de canções, auroras e perfumes....
A promavera cinge do seio azul da matta um collar de flores e o sol, oblíquo e calido, num beijo igneo accende na fronte granítica das cordilheiras uma aureola de lampejos....por toda a parte a vida....; contudo uma idéia triste nubla-me este quadro grandioso,- lançando para a frente o olhar, avisto alli, curva sinistra, entre o cloro azul da floresta, - a linha da locomotiva, como uma ruga fatal na fronte da natureza!.....Uma ruga, sim! Ah! taxem-me muito embora de anti-progressista e anti-civilisador; mas clamarei sempre e sempre. O progresso envelhece a natureza, cada linha do trem de ferro é uma ruga e longe não vem o tempo em que ella, sem seiva, minada, morrerá!!!
E a humanidade não vive sem ella....sim meus collegas, não será dos céos que há de partir o grande ´BASTA´ (botem B bem grande!) que ponham fim a esta comédia lacrimosa a que chamam VIDA; mas sim de Londres; não finar-se-a o mundo ao rolar a última e sim ao queimar-se o último pedaço de carvão de pedra....Tudo isto me revolta, me revolta, vendo a cidade dominar a floresta, a sargeta dominar a flor! Mas....eis-me enredado em digressões inúteis....Basta de philosophias!.....O meu cargo de correspondente (?) ordena-me que escreva de modo a fazer rir (!)....ter espírito! ei o meu impossível: trago in mente (deixem passar o latim) o ser mais desenxabido que uma missa (perdoai-me ó padres!)
OBS: A TRANSCRIÇÃO RESPEITOU A GRAMÁTICA DA ÉPOCA
Os desenhos são de Marcos, jovem morador na rua Salvador Rodrigues dos Santos, em Angatuba

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