quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O predador


Alguém virá fechar

a porteira

de madeira.

Alguém replantará uma floresta.

Alguém será honesto

ou talvez justo.

Alguém respeitará os últimos arbustos.


Entrementes

tu mentes

e eu mostro os meus dentes.

Por enquanto comemos;

o que é de somenos.

O importante é não sofrermos.

Eu bebo vinho francês;

e vocês? Vocês carregam

a mágoa de nem mesmo, terem água.

Cavem a terra; eu cavo

o ouro do Tesouro.

Plantar sem aditivos nem venenos

é sonho vosso. O nosso

é escavar debaixo dos tapetes

das ante-salas e dos gabinetes.


Dizeis que chegam pássaros migrantes?

Que importa;

os arrivistas chegam antes.


Ah, não tendes nenhuma importância.

Como as florestas

a água

o cérebro das crianças

estais para findar. E nós

os novos roedores

comemos o alicerce da Terra

e arredores.


Há névoas e fumos em todas as salas

em todas as aves e ares e selvas

que ardem.


É fogo!

E fumegamos os nossos charutos

enquanto queimamos os vossos futuros

e o vosso ar puro.

É fogo! E manipulamos os orçamentos

e passamos varrendo como os ventos

lambendo feito labaredas

as folhas verdes, as verdes sedas

das notas de dólares, lúbricas, ótimas!


Últimos.

Somos os últimos.

Os últimos frutos nós comemos,

os últimos filhos nós fazemos,

os últimos filhos nós comemos

os últimos venenos difundimos

as últimas águas poluimos

e vamos que vamos

os últimos.

E rimos!!!


E escrevemos.


Renata Pallotini
A arte pop denomina-se "Arma de Fogo"´(1968). Do artista plástico norte americano Roy Lichtenstein

Nenhum comentário:

Postar um comentário