quinta-feira, 28 de maio de 2009

"Ao Vivo no Estúdio" comentado pelo próprio Arnaldo Antunes


Quando comecei a conceber o disco Qualquer, em 2006, tinha a intenção de gravá-lo num show, em DVD. Já era então um desejo antigo, mas como não pudemos viabilizar a tempo a produção para esse projeto, optei por gravar apenas o CD, em estúdio mas praticamente ao vivo, com todos os músicos tocando juntos, ao mesmo tempo.
Qualquer foi lançado em setembro do ano passado e, em outubro, estreávamos o show. Adaptamos os arranjos do disco (todo gravado apenas com instrumentos de cordas e piano) para a formação de um trio, composto por Chico Salem (que também havia participado da gravação do disco), nos violões de aço e nylon; Betão Aguiar, na guitarra e violão de nylon, e Marcelo Jeneci, nos teclados e sanfona. Creio que conseguimos recriar a atmosfera do disco, com algumas novidades de timbres e levadas. Talvez a mais marcante delas seja a presença da sanfona e dos teclados elétricos, em lugar do piano.
Aos poucos, a sonoridade foi ficando mais coesa, com os diálogos entre os instrumentos tecendo uma feição própria, de banda, o que me estimulava ainda mais a querer gravar o show em DVD.
Além das músicas do Qualquer, rearranjamos várias outras de meu repertório, trazendo-as para esse contexto sonoro mais intimista, sem bateria ou percussão. Em algumas, mudei o tom em que havia gravado originalmente, para aproximá-las da forma de interpretação menos gritada, mais grave, na região mais natural da minha voz. Entraram O Silêncio, Saiba, Pedido de Casamento, Judiaria, Socorro, Se Tudo Pode Acontecer, Fim do Dia, entre outras (dos álbuns Ninguém, O Silêncio, Um Som, Paradeiro e Saiba), incluindo releituras de Não Vou Me Adaptar e O Pulso, canções de minha época nos Titãs.
E ainda versões de Bandeira Branca (Max Nunes e Laércio Alves), que eu havia gravado para a trilha sonora do filme Gêmeas, a convite do diretor Andrucha Waddington, em 1999 (aqui mesclada, por uma certa conjunção poética, com O Buraco de Espelho), mas que não havia sido lançada em disco, e de Qualquer Coisa, de Caetano Veloso. Essa última escolha foi motivada pelo fato de eu estar fazendo um show intitulado Qualquer (assim como o CD), no qual há, além da faixa-título, uma música intitulada As Coisas (parceria minha com Gil, gravada por ele e Caetano em Tropicália 2 e regravada por mim no Qualquer), além de Socorro (parceria com Alice Ruiz), cujo refrão diz “Qualquer coisa que se sinta...”. Para mim, era como se o Qualquer Coisa do Caetano já estivesse sobrevoando e eu apenas decidisse deixar ele pousar. O caminho peculiar que o arranjo foi tomando nos ensaios, bem diferente da gravação da gravação de Caetano, também me animou a encarar essa releitura.
Nunca tive tanto prazer em cantar como nesse show. A sonoridade se adequou muito bem à intenção que eu queria imprimir no canto, mais sereno, saboreando cada sílaba. O resultado parece evidenciar as próprias canções (e a compreensão mais clara das letras), sem perder uma vibração, inevitável para mim, na atitude como sou levado a me comportar no palco. Herança do rock’n roll.
Após um ano de estrada com o show Qualquer por muitas cidades do Brasil, finalmente surgiu a oportunidade de registrá-lo em um DVD. Para nós era perfeito, pois tivemos tempo de ir aprimorando os arranjos, experimentando mudanças no roteiro, azeitando a máquina.
Mas não queria fazer apenas mais um registro de turnê. Achava que essa era uma oportunidade de criar algo especial para a linguagem do vídeo. Aí pensamos em voltar para o estúdio e, invertendo a maneira como havíamos feito o disco (no estúdio mas ao vivo) propusemos gravar um show, com público, mas no estúdio (onde teríamos condições muito favoráveis de captação de som e imagem).
O Mosh entrou na parceria, oferecendo a sala de seu estúdio A para a gravação, além de toda a estrutura para a finalização (mixagem, edição, masterização e autoração).
Gravamos para uma pequena platéia de cinquenta pessoas, sentadas no chão do estúdio, ao nosso redor. A sala da técnica, separada da sala de gravação por um vidro, acabou fazendo parte da cena.
O show já tinha um vídeo, criado por Marcia Xavier e Doca Corbett, todo em preto e branco, que funcionava como um cenário em movimento, e os figurinos, criados por Marcelo Sommer, eram todos em diferentes tons de cinza. Como já tínhamos nos apegado a esse ambiente, muito adequado para o som que vínhamos fazendo, pensamos em produzir o DVD todo em preto e branco.
Para dirigir, chamei Tadeu Jungle, que já havia dirigido dois de meus clipes (Poder e O Silêncio) e com quem tinha há tempos o desejo de fazer um trabalho de mais fôlego em vídeo. Propus trabalharmos com um conceito de luz e fotografia bem contrastadas, que se afastasse da textura dos programas de televisão e se aproximasse da estética do cinema expressionista alemão do início do século passado. Convidamos Marieta Ferber para criar o cenário, que ficou bem bonito e apropriado ao clima que buscávamos.
Como esse é meu primeiro DVD (e CD) gravado ao vivo, quis que ele fosse bem representativo de minha carreira, de uma maneira geral. Ampliei um pouco a panorâmica que o roteiro dá sobre o meu repertório, incluindo algumas outras canções, além de uma inédita (Quarto de Dormir, parceria minha com Marcelo Jeneci).
E convidei para participarem alguns artistas amigos que foram importantes nesses 25 anos de carreira. Com Nando Reis cantei Não Vou Me Adaptar, que gravamos juntos com os Titãs (no disco Televisão e, posteriormente, no Go Back, ao vivo em Montreux) e que ele incluiu depois em seu repertório solo. Com Edgard Scandurra fiz Judiaria (de Lupicínio Rodrigues, que gravamos juntos no álbum Ninguém), quase toda apenas com voz e guitarra. Com Branco Mello cantei Eu Não Sou Da Sua Rua, parceria nossa dos anos 80, que havia sido gravada por Marisa Monte em 91 e que eu regravei no Qualquer.
Com as presenças de Branco e de Nando estava bem representada minha fase nos Titãs. Com Edgard, parceiro que participou de todos meus discos; minha carreira solo. Faltava minha outra banda, Tribalistas. Carlinhos e Marisa atenderam ao meu chamado, e veio também Dadi, que gravara conosco, para fazermos duas músicas daquele repertório — Um a Um e Velha Infância.
O resultado está aí.
Ao Vivo No Estúdio.
Espero que quem veja e ouça se divirta tanto quanto nós, ao gravá-lo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Artistas da região




A primeira obra é o "Sofá azul e aroma de cereja", de Regina Leopardi, de Itapeva
A segunda, sem título, é de Marlene Passos, de Angatuba




quinta-feira, 7 de maio de 2009

Arte do Comum


A arte do artista é sustento
horizonte e consolo
ouvidos e língua
e essência.
Do artista nada mais se espera
já que vive para tal
arte vinda de artista é algo muito natural.
Trabalha, aplica, matuta,
a inspiração vira método
a criação parafuso
a estética freguês número um.
A arte do artista, no raso,
é profundamente comum.

Mas haverá arte nos sem talento algum?
O muro do pedreiro
a canção de chuveiro
o batuque na mesinha
um toque de campainha
a jura de amor mal escrita
a poesia meio esquisita
as rimas óbvias…
e a impossível!
É empinar pipa
é dividir o pão
é fazer com carinho
é pedir perdão.
A arte do comum é pura pretensão
mas revela, sincero e amador,
o coração.
Extraída do site Nós, Senhor

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A alma de Tacutsi

MARLENE PASSOS

Dois jovens guerreiros Sioux sobem a montanha para tentar caçar pois havia escassez de alimento na aldeia. Sem demora um urso se aproxima, olhar de fera faminta, os índios apontam flechas e lançam. O sioux mais velho tenta distrair e ao mesmo tempo enfrentar o urso, olhar de fera para fera. O urso sente a lança perto do coração, mas mesmo assim reage dando um golpe fata l em Terosic. O índio cai e o urso foge. Karenoc grita ao ver o irmão sem vida. Nesse instante a lua desce e traz uma linda mulher trajando vestes de pele de urso branco, e nos longos cabelos tranças com penas de águia.
-Não tema, trago a ressurreição para seu irmão.
-Você é Tacutsi, a deusa da vida? Pergunta Karenoc, assustado.
-Sim, vim salvar seu irmão porque a aldeia precisa de sua força espiritual , e você por ser mais jovem tem muito a aprender.
Nesse instante Tacutsi canta uma suave canção como se a natureza fizesse um coral. Ajoelha-se perto de Terosic e massageia o coração, depois a fronte, inspira e expira nas narinas do índio para devolver-lhe a vida. Numa respiração profunda ele abre os belos olhos negros e se encanta com a deusa fazendo aquele ritual.
-O urso....-ele diz.
-Não se preocupe, ele fugiu -diz o irmão.
- O urso não resistiu ao ferimento, o corpo está próximo desse local, pode levá-lo para alimentar sua aldeia.
A força espiritual do urso elevou-se à outras esferas para purificar-se e fortalecer os instintos. Agora vão.
Os irmãos amarram o urso em cipós e vão puxando. A aldeia faz um ritual de dança e canto para agradecer o alimento.
O tempo passa e numa certa noite Terosic, que em ritual de guerra era chamado de lobo selvagem, se afasta dos integrantes e segue o caminho da montanha,
Chega ao local onde fora salvo. O olhar se perde entre o claro da lua e em pensamento chama a alma da mãe criadora que usou sua mágica para dar vida às plantas, árvores, lagos, montanhas e a sua essência, Aquele guerreiro estava sofrendo por amor. A lua desce e surge Tacutsi o fazendo sorrir.
-Pensei que não a veria mais!
-Meu guerreiro, sinto o que diz seu coração, não pode alimentar esse sentimento.
-Por que o amor precisa ser tão cruel? Se era para sofrer por que me salvou?
-O amor pela aldeia precisa ser maior que o amor individual, eles necessitam de sua energia espiritual.
-Penso em sua luz todo instante, seu instinto é imune ao amo?
-Não, amo profundamente tudo que toco, tudo que manifesta vida,mas não posso amá-lo como companheira.
-Por que? Devo minha vida a ti.
-Nâo guerreiro, sua ressurreição foi necessária, a natureza segue seu curso.
-Então faça que esse amor se transforme e não me deixe sofre tanto.
-Meu guerreiro, quando enfrenta-se o silêncio da própria solidão é que se conhece verdadeiramente e sente a necessidade do controle vital.
-Não há como fugir das lições e efeitos da vida.
-A dor do amor é única. Não sente nada por mim?
-Devolvi sua vida por amor, mas meu corpo não pode amá-lo, possuo outra natureza fluídica. Meu corpo não contém a sensibilidade da entrega carnal. Minha alma pode amá-lo, mas nunca haverá contato entre nós como existe com os amantes.
-Estou condenado à solidão...
Lobo Selvagem abaixa-se e num gesto de carinho Tacutsi afaga seus cabelos.
-Não sofra guerreiro, a luz do amor sempre se renova e em breve salvará uma bela índia das águas tuvas do rio.
Esse sim será um amor de pura sedução vinculado ao amor divino. A felicidade é uma conquista, mas também tem uma hora para acontecer. Agora volte a aldeia, estão sentindo sua falta. Lobo Selvagem retorna com a sensação de que realmente tudo se renova a cada estágio.E assim a luz seduz lendas e crenças.

M.P- Decoração artesanal MP (tapetes, blusas, pintura em tela infantil e paisagens) Mergulhe na magia das cores . Fone: 9751-2024

Jornal de Angatuba 30/04