segunda-feira, 1 de junho de 2009

Serie Biblioteca Municipal de Angatuba

"O xará de Apicucos", uma leitura indispensável sobre Gilberto Freyre

AIR S.ANTUNES

Gilberto Freyre é um nome imprescindível para referenciar o Brasil em, sua história, em sua cultura, em sua miscigenação. Quando o autor de Xará de Apicucos, Gilberto Felisberto Vasconcellos esteve em Angatuba e referiu enfaticamente Darcy Ribeiro, logo foi pensado um retorno para que ele palestrasse acerca de Gilberto Freyre, retorno que não aconteceu mas que ainda se faz necessário. Aliás, tanto quanto reestudar Freyre, é importante para um entendimento mais apurado de Brasil , estudar nomes como Florestan Fernandes, Antônio Cândido, Ariano Suassuna, Câmara Cascudo, e tantos outros que expõem com galhardia um Brasil que poucos conhecem mas que, não obstante, é o real.
Freyre, em seus aprofundamentos étnicos alertou que o Brasil ao oficializar a abolição da escravatura, automaticamente, transferiu o negro da senzala para a favela. É fato que o favelado, vítima de um abismo social e econômico de dimensões incalculáveis, pouco se diferencia dos escravos em suas senzalas.
O xará de Apicucos é, além de uma extrema avaliação de um fato sociológico do qual não podemos ignorar, um primor de estilo no qual Gilberto Vasconcellos abrilhanta a narrativa de forma envolvente e instigante. Com dedicatória ao cineasta Júlio Bressane, editado pela Editora Casa Amarela, O xará de Apicucos é um forte fator de identificação entre as convivções ideológicas do seu autor e de Freyre, tanto que o “xará” do título é algo mais do que o fato de ambos chamarem Gilberto. Apicucos nada mais é do que o nome da cidade natal de Gilberto Freyre, em Pernambuco.

O xará de Apicucos - um ensaio sobre Gilberto Freyre
“No sul do país, o negro é tema ou objeto de reflexão sociológica rigorosa- porém não é língua, mesmo quando focaliza a ficção do século passado em torno do apotegma segundo o qual não há amor que dure sem mucama. Gilberto Freyte está para o Brasil assim como Sartre está para a França, segundo Darcy, no prefácio latino-americano de a “Casa Grande & Senzala”, em que ele acaba por fazer a psicanálise de si mesmo ao dividir o xará em dois: um artista e outro cientista. A admiração de Darcy cobra-lhe essa divisão fundada na volúpia de escrever. Há determinados momentos no prazer do texto em que a ciência claudica- vence o estilo!”


Publicado no Jornal de Angatuba, edição de 30 de maio de 2009