quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

"O Caçador de Pipas", uma dica literária


Livro que faz um bom tempo nos primeiros lugares de venda e o mais retirado da Biblioteca Municipal de Angatuba no último trimestre de 2008. O Caçador de Pipas , de Khaled Hosseini, trata-se de uma narrativa insólita e eloquente sobre a frágil relação entre pais e filhos, entre os seres humanos e seus deuses, entre os homens e sua pátria. Uma história de amizade e traição, que nos leva dos últimos dias de monarquia do Afeganistão às atrocidades de hoje.
Amir e Hassan cresceram juntos, e, exatamente como seus pais. Apesar de serem de etnias, sociedades e religiões diferentes, Amir e Hassan tiveram uma infância em comum, com brincadeiras, filmes e personagens. O laço que os une é muito forte: mamaram do mesmo leite, e apenas depois de muitos anos Amir pôde sentir o poder dessa relação.
Amir nunca foi o mais bravo ou nobre, ao contrário de Hassam que decidiu quem Amir seria, durante a batalha da pipa azul, uma pipa que mudaria o destino de todos.
Grande sucesso da literatura mundial, aclamado pelo público, O Caçador de Pipas teve seus direitos de edição vendidos para 29 países e já está nas telas de cinema do mundo todo, numa produção de Sam Mendes, o mesmo diretor de Beleza Americana.
Fato curioso: O Caçador de Pipas é proibido no Afeganistão, justificativa, o filme pode incitar à violência.


O autor
Khaled Hosseini nasceu em Cabul, em 1965. Aos 11 anos, se mudou com sua família para Paris, onde seu pai assumiria um posto diplomático na embaixada afegã. Após o mandato de seu pai na França, Hosseini voltou para um Afeganistão vítima do sangrento golpe comunista e da invasão soviética. Sua família pediu asilo político, e em 1980, foi para San Jose, California, onde Khaled se formou em medicina.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O seu amor


O seu amor
Ame-o e deixe-o
livre para amar

O seu amor
ame-o e deixe-o
ir aonde quiser

O seu amor
Ame-o e deixe-o
BRINCAR

Ame-o e deixe-o
CORRER

Ame-o e deixe-o
CANSAR

Ame-o e deixe-o
DORMIR EM PAZ

O seu amor
ame-o e deixe-o
SER O QUE ELE É
A obra de arte, "O Beijo", é do francês Tolouse Lautrec


Poema enviado por Mirele Antunes Serrano

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Poesia de um palestino sobre o ataque de Israel contra seu povo

Ocuparam minha pátria
Expulsaram meu povo
Anularam minha identidade
E me chamaram de terrorista

Consfiscaram minha propriedade
Arrancaram meu pomar
Demoliram minha casa
E me chamaram de terrorista

Assassinaram minhas alegrias,
Sequestraram minhas esperanças,
Algemaram meus sonhos,
Quando recusei todas as barbarias
Eles.... mataram um terrorista.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Tese de mestrado na USP por um psicólogo

'O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE'

Plínio Delphino, Diário de São Paulo.

O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.
Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida: 'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o pesquisador.
O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz.
No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo.
No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse: 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi.
Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar. O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.
E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão. E quando você volta para casa, para seu mundo real? Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.
Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.
*Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

PENSAMENTO DO DIA EM 1867!!!

Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado".

Karl Marx, in Das Kapital, 1867

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O predador


Alguém virá fechar

a porteira

de madeira.

Alguém replantará uma floresta.

Alguém será honesto

ou talvez justo.

Alguém respeitará os últimos arbustos.


Entrementes

tu mentes

e eu mostro os meus dentes.

Por enquanto comemos;

o que é de somenos.

O importante é não sofrermos.

Eu bebo vinho francês;

e vocês? Vocês carregam

a mágoa de nem mesmo, terem água.

Cavem a terra; eu cavo

o ouro do Tesouro.

Plantar sem aditivos nem venenos

é sonho vosso. O nosso

é escavar debaixo dos tapetes

das ante-salas e dos gabinetes.


Dizeis que chegam pássaros migrantes?

Que importa;

os arrivistas chegam antes.


Ah, não tendes nenhuma importância.

Como as florestas

a água

o cérebro das crianças

estais para findar. E nós

os novos roedores

comemos o alicerce da Terra

e arredores.


Há névoas e fumos em todas as salas

em todas as aves e ares e selvas

que ardem.


É fogo!

E fumegamos os nossos charutos

enquanto queimamos os vossos futuros

e o vosso ar puro.

É fogo! E manipulamos os orçamentos

e passamos varrendo como os ventos

lambendo feito labaredas

as folhas verdes, as verdes sedas

das notas de dólares, lúbricas, ótimas!


Últimos.

Somos os últimos.

Os últimos frutos nós comemos,

os últimos filhos nós fazemos,

os últimos filhos nós comemos

os últimos venenos difundimos

as últimas águas poluimos

e vamos que vamos

os últimos.

E rimos!!!


E escrevemos.


Renata Pallotini
A arte pop denomina-se "Arma de Fogo"´(1968). Do artista plástico norte americano Roy Lichtenstein

Mário de Andrade / Augusto Campos


Tenho de ver por tabela,

sentir pelo que nos contam


(......)


Seringueiro, eu não sei de nada!

E no entanto estou rodeado

Dum despotismo de livros


Mário de Andrade
Pós tudo, a poesia concreta é de Augusto Campos

...pérolas de Marx

O caminho do inferno está pavimentado de boas intenções.

Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.

O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da do homem; a essência domina-o e ele adora-a.

A religião é o suspiro da criança acabrunhada, o coração de um mundo sem coração, assim como também o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo.

A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes.

A religião é o ópio do povo.

Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo.

Uma idéia torna-se uma força material quando ganha as massas organizadas.

As idéias dominantes numa época nunca passaram das idéias da classe dominante.

As revoluções são a locomotiva da história.

O que distingue uma época econômica de outra, é menos o que se produziu do que a forma de o produzir.

Os operários não têm pátria.

Se o bicho da seda tecesse para ligar as duas pontas, continuando a ser uma lagarta, seria o assalariado perfeito.

Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, práticas esportes, etc. , mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e atividades são tragadas pela cobiça.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Drummond / Gregory Colbert


Não, não haverá para os ecossistemas

aniquilados Dia seguinte.

O ranúnculo da esperança não brota

No dia seguinte.

A vida harmoniosa não se restaura

No dia seguinte.

O vazio da noite, o vazio de tudo

Será o dia seguinte
(Carlos Drummond de Andrade)
(A arte é de Gregory Colbert)

"A orgia dos troféus"

Outros blogueiros já tocaram neste mesmo assunto e até com o mesmo título. Mas foi com este título que a revista Carta Capital de alguns anos atrás transcreveu artigo de Jason Cowley sobre "a orgia dos troféus" , do qual saíram estas pérolas:

"A arte começa a se parecer com o esporte, com listas de vencedores e perdedores e espetáculos de competição: Os Oscars, os Baftas, os Brits."

"No mundo dos livros, os prêmios há muito suplantaram as resenhas como meio principal de divulgação literária. Hoje, eles também estão retirando dos críticos profissionais a tarefa de julgar".

"(....) a biografia resumida a uma mera lista de prêmios obtidos, a um exercício de auto-enaltecimento. É como se não tivéssemos outra linguagem para elogiar um autor ou nenhum outro vocabulário de avaliação".

"(...) como se as conquistas passadas validassem a oferta atual".

"Mas não se deve levar isso demasiadamente a sério, sobretudo quando nos lembramos que o primeiro Nobel de Literatura, em 1901, o prêmio que pôs em movimento o trem dos prêmios modernos, foi ganho por Sully Prudhomme (1839-1907). Sim, isso mesmo, Sully Prudhomme. Um dos infelizes perdedores naquele ano foi Leon Tolstoi (1828-1910). O autor de Guerra e Paz e Ana Karenina nunca recebeu o Nobel. Mas Sully Prudhomme, autor de.....(bem, diga-me você!), sim".

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Uma curiosidade

Indispensável nas festas de aniversário das crianças, o brigadeiro é iguaria tradicional. O nome "brigadeiro" nasceu há cerca de 60 anos, quando mulheres empenhadas na campanha para presidente do Brasil, do brigadeiro Eduardo Gomes, faziam estes doces para distribuí-los nos comitês dos candidato. O que era chamado de "doce do brigadeiro" passou a ser identificado somente como "brigadeiro". A propósito, algo nada a ver com o doce: quem ganhou a eleição naquela ocasião foi Getúlio Vargas, que voltou para o segundo mandato.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Euclides, o ecologista




O amor à natureza em Euclides da Cunha é uma das bases de sua compreensão do Brasil, de sua superconscientização de nossa realidade. Identificado ao meio, considerado conforme as coordenadas de tempo e espaço, desenvolveu sua mensagem em autêntica identificação com nossa coletividade e o ambiente que a envolve.




"Um ruga fatal na natureza"

EUCLIDES DA CUNHA

Meus colegas- escrevo-vos às pressas, desordenadamente...
Guiam-me a penna às impressões fugitivas das multicores e variegadas télas de uma natureza esplendida, que a Tramway me deixa presencias de relance quasi. É magestoso o que nos rodeia: No seio dos espaços palpita coruscante o grande motor da vida; envolvida na clamy de scintillante do dia, a natureza ergue-se brilhante e sonora numa expansão sublime de canções, auroras e perfumes....
A promavera cinge do seio azul da matta um collar de flores e o sol, oblíquo e calido, num beijo igneo accende na fronte granítica das cordilheiras uma aureola de lampejos....por toda a parte a vida....; contudo uma idéia triste nubla-me este quadro grandioso,- lançando para a frente o olhar, avisto alli, curva sinistra, entre o cloro azul da floresta, - a linha da locomotiva, como uma ruga fatal na fronte da natureza!.....Uma ruga, sim! Ah! taxem-me muito embora de anti-progressista e anti-civilisador; mas clamarei sempre e sempre. O progresso envelhece a natureza, cada linha do trem de ferro é uma ruga e longe não vem o tempo em que ella, sem seiva, minada, morrerá!!!
E a humanidade não vive sem ella....sim meus collegas, não será dos céos que há de partir o grande ´BASTA´ (botem B bem grande!) que ponham fim a esta comédia lacrimosa a que chamam VIDA; mas sim de Londres; não finar-se-a o mundo ao rolar a última e sim ao queimar-se o último pedaço de carvão de pedra....Tudo isto me revolta, me revolta, vendo a cidade dominar a floresta, a sargeta dominar a flor! Mas....eis-me enredado em digressões inúteis....Basta de philosophias!.....O meu cargo de correspondente (?) ordena-me que escreva de modo a fazer rir (!)....ter espírito! ei o meu impossível: trago in mente (deixem passar o latim) o ser mais desenxabido que uma missa (perdoai-me ó padres!)
OBS: A TRANSCRIÇÃO RESPEITOU A GRAMÁTICA DA ÉPOCA
Os desenhos são de Marcos, jovem morador na rua Salvador Rodrigues dos Santos, em Angatuba

A mente


Os outros homens são como lentes através das quais lemos nossas próprias mentes
Ralph Waldo Emerson

A mente humana progride sempre, mas é um progresso em espiral.
Madame de Stäel

Existem apenas duas forças no mundo: a espada e a mente. A longo prazo, a espada sempre é vencida pela mente.
Napoleão Bonaparte

Aquele que pretende controlar a mente pela força é um tirano, e aquele que se submete a isso é um tolo.
Robert Ingersoll

Qualquer coisa pode corromper uma mente pervertida.
Ovídio

A mente é seu próprio lugar, e em si mesma pode fazer do Paraíso um inferno e do Inferno um paraíso.
John Milton

As mentes pequenas estão interessadas no extraordinário; as grandes mentes,no lugar comum.
Elbert Hubbard

A mente verdadeira, forte e sadia, é aquela que pode abarcar igualmente as coisas grandes e pequenas.
Samuel Johnsom

Corpos destituídos de mente são estátuas no mercado.
Eurípedes

Penso, logo existo.
Renè Descartes

Como te pareces com a água, ó mente humana.
Goethe
A OBRA DE ARTE É "GUERNICA" DE PABLO PICASSO






sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

...de Nelson Mandela


"...Não tem nada de iluminado no ato de se encolher, pois os outros se sentirão inseguros ao seu redor.

Nascemos para manifestar a glória do Espírito que está dentro de nós.

E à medida que deixamos nossa luz brilhar, damos permissão para os outros fazerem o mesmo.

À medida que libertamos nosso medo, nossa presença libera outros"


Nelson Mandela

A flor e carvoaria

Outro dia
nasceu uma flor
na janela da carvoaria.

Era amarela
a flor que havia
na janela

A regra
é que toda coisa
na carvoaria
ficasse negra

A flor amarela
que nasceu outro dia
na janela da carvoaria
não fugiu à regra

Depois daquele dia
a vida, na carvoaria
não mudou quase nada.
Mas a janela,
ela nunca mais foi a mesma;
ficou levemente perfumada

Sérgio Antunes

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

K. Kraus


Jornalista, escritor, intelectual satírico, Karl Kraus, morto em 1936, pode ser considerado alguém que viveu à frente de seu tempo. Dizer que "Educação é algo que a maioria recebe, muitos transmitem e poucos têm" o torna, a meu ver, atual, envolvido numa contemporaneidade global na qual grande parte finge que está aprendendo e outra parte finge que está ensinando.

A "química" de Lavoisier e mais um pouco


Intromissão com elegância. O remendo novo elabora lindos contornos no "antigo". O belo só se perpetua com o adereço do imprevisível. Uma linda obra de Van Gogh não continuaria bela se novos olhares não a divisassem. O "antigo", cultuado apenas sob o ponto de vista pedagógico da história, não consegue fugir de seu teor arqueológico.

Oh! Macular-se excessivamente do constante, como um pêndulo que não altera sua maneira de movimentar-se! "Intrometer-se" é contrariar este movimento, a não ser que a peça seja o "Pêndulo" de Foucault que, quando acaba-se de lê-lo, logo é colocado na estante e, de lá só o retirando para, novamente, descobrir o que escapou, ou redescobrir.

Este movimento é outro que acaba tornando-se "antigo", para não dizer rotineiro, mas como ele existem outros ainda que, manipulados por velhos rituais, nunca impedem a oportunidade de gerar emoções novas.

Compreender uma paisagem é estar condicionado a ela. Condicionar-se à paisagem é forma de elegância, assim como um adereço da moda que ornamenta o corpo. Para este caso, até parece que os dois estavam na maior expectativa da intromissão, de se intrometerem. E aí, não é mera ilusão imaginar que a expectativa maior era do "antigo".


Air S. Antunes
Crônica publicada na edição de 5 de junho de 1994
do jornal Diário do Sul
O cartaz é do filme "Gosto de Cereja" do cineasta iraniano Abbas Kiarostami

Mário Quintana /Hélio Oiticica


Poema de circunstância


Onde estão os meus verdes?

Os meus azuis?

O Arranha-Céu comeu!

E ainda falam nos mastodontes,

nos brontossauros, nos tiranossauros, que mais sei

eu...

Os verdadeiros monstros, os Papões,

são eles, os arranha-céus!

Daqui

Do fundo

Das suas goelas

Só vemos o céu, estreitamente, através

de suas empinadas gargantas ressecas

Para que lhes serviu beberem tanta

luz?!

Defronte

À janela aonde trabalho

Há uma grande árvore....Enquanto há verde.

Pastai, pastai, olhos meus....

Uma grande árvore muito verde...Ah,

Todos os meus olhares são de adeus

Como o último olhar de um

condenado!


Elegia ecológia


As grandes damas usavam chapéus, cheios de

flores e de passarinhos .

As flores feneceram, porque até as flores

artificiais fenecem.

Os passarinhos voaram. E foram pousar nos

últimos parques onde iludem agora os seus

últimos frequentadores.

Sim! as grandes damas usavam uns grandes chapéus...

Eram cheios de flores e de passarinhos!


Mário Quintana
A obra de arte é o Grande Núcleo, de Hélio Oiticica

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Lembranças


Das velhas impressões da infância a idéia grata

Perdura-nos fiel, volvam embora os anos;

Em vão do nosso Abril as flores sofrem danos,

A imagem delas fica indelével, exata.


Ao contrário, ai de nós! -ninguém conserva intacta

A memória, apesar de esforços sobre-humanos,

Das novas emoções, efêmeros enganos,

Cujo traço se apaga apenas se retrata.


Como esperto escanção que no banquete a taça

Entretém sempre cheia, a cada vez que passa,

Passa o tempo e noe enche a memória também.


A lembrança mais nova é a gota derradeira,

Que, ao choque mais sutil, transborda e cai; porém

No fundo permanece a primitiva- inteira.


Sully Prudhomme


Tradução de Augusto de Lima



Sully Prudhomme, poeta parnasiano francês, foi o primeiro autor a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1910

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O destino, o homem escolhe?

Poema gráfico de Arnaldo Antunes

Martin Heidegger: O homem é uma possibilidade do ser, é liberdade, sem predeterminações.

Jean Paul Sartre : O homem se define pela sua existência no mundo e pelas escolhas que faz.

Kant : A lei moral é que comanda a razão do homem, e obedecendo ele é livre; mesmo "obrigado" por essa lei, não é por ele determinado.

Sören Kierkegaard : O atributo básico do indivíduo é sua capacidade de escolher e decidir o que é bom ou mau.

Jesus Cristo : O homem tem a liberdade de optar entre Deus e o diabo, e assim entrar no céu ou no inferno.

Duns Scott : A vontade do homem como reflexo do divino é essencialmente livre .

Santo Inácio de Loyola: A salvação depende da fé, e ainda das obras.

Epicuro : No universo comandado pelo determinismo mecânico, o homem é interiormente livre e pode conquistar a tranquilidade do espírito.

Henri Bergson : Nada é predeterminado, pois só a evolução é realmente criadora, embora imprevisível.

Erasmo, no quadro do humanismo medieval, salientou a importância do livre-arbítrio contra o determinismo defendido por Lutero.

William James afirmou que só a liberdade ou o ocaso impedem a história de ser mera repetição.

Martinho Lutero : Por causa do pecado original, o homem é incapaz de, por si mesmo, fazer o bem, vivendo preso ao pecado.

Buda : O livre-arbítrio humano não se coaduna com a sequência de causa e efeito, característico do processo universal.

Baruch Spinoza : Como tudo é governado por uma ordem lógica, não existe o livre-arbítrio na esfera psicológica .

Demócrito : Sendo todo o universo regido por leis mecânicas, nada acontece por acaso.

Santo Agostinho : Somente pela graça de Deus os homens podem ser virtuosos.

Maomé : Não há limite ao poder de Deus, que predestinou tudo no mundo.

João Calvino : O homem estaria condenado sem o auxílio de Deus.

Thomas Hobbes : De acordo com seu materialismo, nem mesmo o pensamento é livre, tudo está determinado.

~São Paulo : Apenas pela graça os homems podem ser redimidos.

Karl Marx : Na história, todas as leis morais, bem como o processo de produção econômica, derivam das posições de classe social.

Cornelius Jansen : Deus ajuda apenas os seus eleitos, não há esperanças para os pecadores.

Freud : Nossa vida é determinada desde a infância pelos conflitos psíquicos de origem sexual .

Pérola Literária

"....Não há dúvida de que o instante que precede o castigo é muito penoso que pode ser que eu incorra em pecado ao chamar a esse medo pequenez de ânimo e cobardia. Devia ser terrível quando se sofria castigo duplo ou triplo e não era administrado de uma só vez. Já falei de alguns condenados que se apressavam a pedir alto, espontaneamente, quando ainda não tinham sequer as costas cicatrizadas das últimas pancadas, a fim de receberem as restantes e de ficarem definitivamente com as suas culpas saldadas, pois o estar pendente de castigo no corpo da guarda era indubitavelmente pior do que o presídio. Mas,além da diferença de temperamentos, desempenhava também um grande papel na decisão e intrepidez de alguns o costume inverterado das pancadas e dos castigos. Dir-se-ia que os que estão muito acostumados ao azorrague têm também a alma e as costas já endurecidas e que acabam de olhar o castigo com ceticismo......."

Trecho de "Memórias da Casa dos Mortos",
de Fiodor Dostoiévski

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A mente


A mente do homem está longe de possuir a natureza de um cristal límpido e homogêneo...ao contrário, é antes um vidro enfeitiçado, cheio de superstição e impostura"

Francis Bacon
A obra de arte é do surrealista belga Renè Magritte

Drummond / Lennon


Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
a segunda-feira ninguém sabe
o que será
Carlos Drummond de Andrade
O desenho é de John Lennon

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O homem


"O único animal que ri é o homem"

William Whitehead


"O homem é um animal que usa instrumentos"

Carlyle


"O homem é um animal que cozinha"

Anon


Os homens não passam de crianças em tamanho maior"

Dryden


"Somos apenas pó e trevas"

Horácio


"Homem, o animal que barganha"

Adam Smith


"O homem, o animal racional"

Sêneca


"O maior inimigo do homem é o homem"

Robert Burton
A obra de arte é de James Gilray

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A mente


"....a mente de um homem é um relógio que está sempre atrasando e exigindo sempre que lhe dêem corda".

William Hazitt
A obra de arte é do artista plástico moçambicano radicado na Alemanha, Vasco Manhiça

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

"....orgulho do imprestável!"

"O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras.
Fazer coisas desúteis.
Eu queria avançar para o começo.
Chegar ao acriançamento das palavras.

Preciso atrapalhar as significâncias
O despropósito é mais saudável que o solene.

Para limpar as palavras de alguma solenidade
-uso bosta!
Nasci para administrar o à toa, o em vão, o inútil

Prefiro as máquinas que servem para não funcionar:
Quando cheias de areia, de formiga e musgo
-elas podem um dia milagrar de flores
Também as latrinas desprezadas
que servem para ter grilos dentro
-elas podem um dia milagrar violeta
Senhor eu tenho orgulho do imprestável!"
(Manoel de Barros)