quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A "química" de Lavoisier e mais um pouco


Intromissão com elegância. O remendo novo elabora lindos contornos no "antigo". O belo só se perpetua com o adereço do imprevisível. Uma linda obra de Van Gogh não continuaria bela se novos olhares não a divisassem. O "antigo", cultuado apenas sob o ponto de vista pedagógico da história, não consegue fugir de seu teor arqueológico.

Oh! Macular-se excessivamente do constante, como um pêndulo que não altera sua maneira de movimentar-se! "Intrometer-se" é contrariar este movimento, a não ser que a peça seja o "Pêndulo" de Foucault que, quando acaba-se de lê-lo, logo é colocado na estante e, de lá só o retirando para, novamente, descobrir o que escapou, ou redescobrir.

Este movimento é outro que acaba tornando-se "antigo", para não dizer rotineiro, mas como ele existem outros ainda que, manipulados por velhos rituais, nunca impedem a oportunidade de gerar emoções novas.

Compreender uma paisagem é estar condicionado a ela. Condicionar-se à paisagem é forma de elegância, assim como um adereço da moda que ornamenta o corpo. Para este caso, até parece que os dois estavam na maior expectativa da intromissão, de se intrometerem. E aí, não é mera ilusão imaginar que a expectativa maior era do "antigo".


Air S. Antunes
Crônica publicada na edição de 5 de junho de 1994
do jornal Diário do Sul
O cartaz é do filme "Gosto de Cereja" do cineasta iraniano Abbas Kiarostami

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