segunda-feira, 9 de março de 2009

"Jesus, o Filho do Homem", uma pérola literária

Quando Ele estava conosco, fitava-nos e ao nosso mundo com olhos deslumbrados, pois Seus olhos não eram velados com o véu dos anos, e tudo quando Ele via era claro à luz de sua juventude.
Embora conhecesse a profundidade da beleza, estava constantemente surpreendido com sua paz e sua majestade; e postava-se diante da terra como o primeiro homem se postara diante do primeiro dia.
Nós, cujos sentidos se têm embotado, olhamos à plena luz do dia e, entretanto, não vemos. Apuramos nossos ouvidos. E estendemos à frente nossas mãos, mas não tocamos. E mesmo que se queime todo o incenso da Arábia, seguimos nosso caminho e não sentimos odor algum.
Não vemos o lavrador voltando do seu campo ao anoitecer; nem ouvimos a flauta do pastor quando ele guia seu rebanho ao redil; nem estendemos os braços para tocar o poente; e nossas narinas não anseiam mais pelas rosas de Sharon.
Não, não honramos reis sem reinos; nem ouvimos o som das harpas, salvo quando as cordas são tocadas pelas mãos; nem vemos uma criança brincando em nosso bosque de oliveiras como se fosse uma jovem oliveira. E todas as palavras precisam nascer de lábios carnais, senão nos consideramos uns aos outros surdos e mudos.
Em verdade, nós fitamos mas não vemos, e escutamos, mas não ouvimos; comemos e bebemos, mas não saboreamos. E aí está a diferença entre nós e Jesus de Nazaré. Todos Seus sentidos eram continuamente renovados, e para Ele o mundo era sempre um mundo novo.
Para Ele, um balbucio de bebê não era menos do que o grito de toda a humanidade, enquanto que para nós é apenas um balbucio.
Para Ele, a raiz de um ranúnculo era um anseio por Deus, enquanto que para nós é apenas uma raíz.

De Jesus, O Filho do Homem, livro de Gibran Khalil Gibran

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